Pesquisa prova que dieta de ultraprocessado engorda
Hoje eu vou falar sobre o consumo de alimentos ultraprocessados, uma pauta que deve ser questionada sempre que possível!
Foi publicado um estudo que mostra com dados científicos que o consumo de produtos ultraprocessados, além de favorecer o aumento das doenças crônicas ligadas à obesidade, também tem efeito direto sobre o peso.
Os estudos que cuidam da saúde das populações já revelavam os males que os ultraprocessados causam à saúde. A novidade é que essa pesquisa conseguiu estabelecer que uma dieta à base de ultraprocessados é causa direta do ganho de peso – e provou também que consumir comida de verdade, baseada em alimentos “in natura” e minimamente processados, leva à perda de peso.
Como foi feito o estudo?
A pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Saúde, dos EUA, baseou-se na observação do comportamento de 20 adultos saudáveis e com histórico de peso estável. Esse tipo de pesquisa é chamado “estudo clínico randomizado” e é considerado o método mais adequado no meio científico para demonstrar relações de causa e efeito.
As pessoas que ficaram internadas no instituto, durante 4 semanas, receberam todos os cuidados necessários. Nas primeiras duas semanas, metade do grupo recebeu uma dieta baseada em comida de verdade, preparada a partir de ingredientes de origem orgânica; e a outra metade, refeições formadas por produtos ultraprocessados. Depois, houve uma inversão: a metade que só ingeriu comida de verdade passou a receber apenas ultraprocessados e a outra, que se alimentou só de ultraprocessados, passou para uma dieta baseada em comida de verdade.
Mas atenção! As dietas tinham exatamente a mesma quantidade de calorias e de macronutrientes. O índice de cada substância era medido para que fosse igual para os dois grupos: gordura, proteína, carboidratos, açúcar, sal e fibras. Cada participante recebia duas vezes a quantidade de comida que precisava para manter seu peso e o combinado era que cada pessoa comesse o quanto quisesse.
Resultado!
No período em que a alimentação foi baseada em ultraprocessados, todos os participantes comeram mais, consumiram mais calorias e engordaram – em média, 1 kg em 2 semanas! E no período em que as refeições eram compostas por alimentos “in natura” e processados, todos perderam peso – em média 1 kg em 2 semanas.
Ou seja, as pessoas comeram muito mais quando as refeições eram baseadas em produtos ultraprocessados, mesmo que não as considerassem mais saborosas do que as baseadas em comida de verdade.
Nem o líder do estudo, Kevin Hall, cientista-sênior do Instituto Nacional para Diabetes e Doenças dos Rins e do Sistema Digestivo, esperava resultados tão contundentes!
E o gasto de energia?
É verdade que se um participante passou horas se exercitando e o outro não fez nada, o resultado será diferente. Por isso, os cientistas não mediram somente o gasto energético, com acompanhamento metabólico detalhado, como controlaram a atividade física dos pesquisados. Cada participante fez exatamente 60 minutos de exercício moderado por dia. Também foram monitorados outros índices de saúde, como o nível de açúcar no sangue e até níveis hormonais.
Por que os ultraprocessados levam a comer mais?
Segundo Hall, apesar do estudo não ser desenhado para apontar exatamente qual aspecto dos produtos ultraprocessados leva a comer mais, a experiência sugere algumas possibilidades:
- Hormônio – Na dieta de comida de verdade, o nível do hormônio que inibe o apetite aumenta, enquanto o nível do hormônio que dá fome diminui. Já na dieta ultraprocessada, é o contrário.
- Proteína – Há um conceito, chamado “hipótese de alavancagem de proteína”, que sugere que as pessoas vão comendo até que alcancem a quantidade de proteína de que precisam. Na dieta ultraprocessada, os participantes comeram mais, aumentando a ingestão de carboidratos e gordura (e portanto, de calorias).
- Mastigação – Os produtos ultraprocessados são mais pastosos e fáceis de mastigar. As pessoas comem mais rápido e não dá tempo do trato gastrointestinal enviar ao cérebro o sinal de saciedade. Resultado: elas comem a mais sem nem perceber.
A solução? Cozinhar!
Tudo indica que os pesquisadores vão explorar cada vez mais quais características dos ultraprocessados geram essas diferenças entre comida de verdade e imitação de comida. O que você pode fazer é manter uma alimentação baseada em refeições caseiras, feitas com ingredientes que vêm da natureza. E fique sempre de olho nas pegadinhas da indústria dos ultraprocessados!
Cada vez mais, fica claro que cozinhar é uma ferramenta eficaz para manter uma alimentação saudável de verdade e é também a única ferramenta que cada um de nós tem para combater esse sistema alimentar que está deixando as pessoas doentes.
Então já sabe: cozinhar a sua própria comida é essencial! 🙂
Por: Dra. Luciana Spina
Luciana Spina é Médica Doutora em Endocrinologia, Especialista em Endocrinologia pela SBEM, premiada e reconhecida internacionalmente.